desenredo, subst.
masculino -
ação ou efeito de
desenredar (-se);
      * * * * * * DESENREDO * * * * * *      
Site idealizado por José Carlos Corrêa Cavalcanti (2005)
desenredamento;
desprender-se da rede;
separar-se do que
está enredado.

ASPECTOS DA BUSCA RELIGIOSA
José Carlos      (23/abril/23)


De início, os buscadores ou discípulos estão mirando a liberação de suas feridas emocionais, o término de seus conflitos, a obtenção de felicidade neste mundo de dores e impermanência, ou outras formas de recompensa. Mas todos querem atingir algum (ou mais de um) objetivo.

Numa etapa mais refinada, o buscador compreende que sua infelicidade reside, em grande parte, de sua dependência aos objetos do mundo para ser feliz, escravizado a coisas fúteis ou mesmo destrutivas — e começa a afrouxar os nós de sua personalidade: preferências, aversões, opiniões de certo e errado, desejos, julgamentos. Embora desejável, pois pode ser um princípio de libertação, esse "afrouxar dos nós" não é suficiente para dar um sentido à existência, que é trazer o sentimento de plenitude, de uma felicidade não tocada pela flutuação incessante das condições.

Mais adiante, o buscador começa a ver-se como uma consciência individual identificada ao corpo, mas sem substância outra que não as coisas da memória, envolta em sombras do passado, perdas e dores emocionais, com pensamentos recorrentes, conflituosos e desencontrados.

E, quando tenta “pôr ordem na casa interior” não o consegue, pois o encarregado da tarefa ainda pertence à mente: um pensamento entre muitos outros que dão ordens e querem ser obedecidos. Sente-se perdido no meio do caminho da vida, e questiona-se: quem sou eu?
Essa interrogação é o verdadeiro início da busca religiosa.

Ora, nossa cognição baseia-se na dicotomia sujeito x objeto: Sou "eu" que conheço alguém ou aprendo algo. Ocorre que a dúvida, agora, alcançou o eu: quem ou o quê sou eu? quem ou o quê é o sujeito que conhece?

Quem ou o quê é o sujeito que se dirige ao mundo externo para buscar felicidade, autorrealização? Será o pensamento? ou é algo mais essencial, do qual o pensamento deriva sua energia criando uma identidade falsa?

Em tudo isso, há inegavelmente o desejo de conhecer, de experimentar, de encontrar felicidade — a qual é entendida como aquisição ou desfrute de objetos sensoriais, e está amarrada a um nó interno de preferências e aversões.

Achamos que isso é liberdade, mas ao contrário! é a mais pura escravidão.
Ora, se sou escravo, quero saber o que me escraviza: então vejo que é a fixação aos objetos de desejo e o temor do sofrimento. E vejo também que as simpatias e antipatias, o "gosto/não gosto" parecem surgir de meu eu.
Mas é correto isto? Não será exatamente o contrário?
Ou seja, os apegos e aversões, junto com todo o condicionamento trazido pelas experiências de vida, tudo isso é justamente a matéria prima que compõe meu eu, que nesse caso é um agregado de coisas da memória e do corpo.

HÁ UMA DIFERENÇA ENORME ENTRE OS DOIS MODOS DE VER.

Até hoje, temos acreditado na concepção de um eu pessoal sempre presente e pré-existente às preferências e antipatias, emoções e sensações.
Essa é noção que está na raiz de nossa escravidão. E é falsa. Por quê?

Porque quando você olha para dentro, você NÃ0 VÊ ESSE EU! Você vê/percebe outra coisa: as sensações do corpo físico, com sua carga de prazeres e dores, e as emoções trazidas pelos objetos do mundo — desejos e temores, preocupações e ansiedades!

A mente é o o local onde os objetos do mundo e as coisas do corpo (sensações e emoções) são representadas. Quando você olha para dentro você vê exatamente isso — e isso é seu eu pessoal. E não há chance de ser feliz tendo esse eu como guia.

Por isso é importante conhecê-lo em profundidade: mas conhecer amistosamente, sem condenar nem absolver. Note que, quando a atenção se volta para um objeto qualquer, conduzida pelo pensamento,
ela está inconsciente de si enquanto tal.
Só interessa o objeto, seja uma pessoa linda ou feia, seja o conteúdo de uma aula importante, um carro novo, uma casa de campo, uma rua escura, etc.

Evidentemente isso deve ocorrer na maioria das atividades práticas do cotidiano, como atravessar uma rua, no exercício da profissão, etc. Aqui, estamos falando no sentido psicológico, emocional, que escraviza nossa atenção a pensamentos inúteis e conflitantes.
 

A atenção é A PARTE VIVA da percepção — enquando o pensamento é o banco de dados da memória, que descreve e "enquadra" as coisas percebidas (obviamente, ela tem uma função importantíssima na vida prática, que é a de reconhecer, traduzir em palavras o que se percebe, mas não é a PARTE VIVA).

Uma boa caracterização da consciência de ego é essa, em que a atenção,
inconsciente de si é dominada pelo pensamento e dirigida aos objetos do mundo e da mente, é um estado em que a matéria, por meio da memória, afirma a si mesma ante o Espírito — usando o Espírito por meio da atenção dele emanada!

A atenção consciente de si, ao contrário, é o Espírito de volta a Si mesmo.
É o raio de sol que percebe sua origem solar, e em vez de se perder novamente nos objetos do mundo, une-se à sua Fonte, da qual jamais esteve separada!

É a onda que, após beijar a orla marítima e conhecer seus objetos belos ou feios, retorna para o grande Oceano e com ele se funde, sem nunca ter saído dele!

Pense nisso: você não pode chegar à Mente Divina sem antes conhecer aquilo que o separa dela. Lembre-se do aspecto simbólico do lobisomem, do vampiro, do retrato de Dorian Gray: após descobertos e liquidados com a bala de prata, a estaca de madeira no coração ou com a punhalada no quadro horrendo, suas imagens medonhas se transmutam extraordinariamente, com a aparência monstruosa dando lugar a um semblante belo, descontraído e inocente.

A libertação é aquilo que os seres das trevas mais desejam, mas, ao mesmo tempo, eles têm O MAIS COMPLETO E ABSOLUTO MEDO DE PERDER SUAS MáSCARAS E VER SUA ORIGEM DIVINA.

Pense nisso.


 


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