CALENDÁRIOS - parte II 
Luiz Roque - professor, poeta e escritor  
Junho/1995

4. O mês Romano (continuação - ver parte inicial)

Para os romanos, o mês se baseava em três partes: Calendas, Idos e Nonas.

As Calendas (de onde vem a palavra calendário) eram no dia 1º. Consagrado à deusa Juno, esposa de Júpiter, esse dia se destinava ao pagamento das dívidas.

Os gregos não tinham Calendas. Assim, quando um romano não pretendia pagar suas dívidas, ou mesmo cumprir qualquer compromisso, dizia que o deixava "para as Calendas gregas". Essa expressão existe até hoje.

Os Idos correspondiam ao dia 15 em março, maio, julho e outubro, e ao dia 13 nos demais meses. Costuma-se usar a expressão "os Idos de março", porque Júlio César foi morto nesse dia, no Senado, em 44 a.C.

As Nonas eram o nono dia antes dos Idos. Até as Nonas, o dia do mês era contado pela sua distância a elas. Passadas as Nonas, o dia do mês era contado pela distância às Calendas do mês seguinte.

5 - A Semana

Recordemos inicialmente que, para os povos primitivos, os meses e anos se baseavam na Lua: quatro lunações = 1 mês lunar, e 12 meses lunares = 1 ano lunar (354 dias).

Assim ainda é hoje, para efeito das festas religiosas ou populares, o ano judaico, o muçulmano, o vietnamita, etc.

A semana de 7 dias (do latim septimana) pode ter surgido em função das fases da lua (cada fase dura aproximadamente 7 dias) ou, talvez, dos planetas conhecidos (cinco), combinados com os nomes de alguns deuses.

Esta semana é originária da ásia. Foi para a Europa e, depois, com o Islamismo, para o norte da áfrica.

Em outras partes da áfrica, entre as tribos, encontramos semanas de 3, 4, 5, 6 e 8 dias, com os nomes dos dias frequentemente associados aos mercados e feiras.

No Congo, a palavra que designa semana é a mesma que significa mercado.

Entretanto, no Ocidente, os dias se referem ao Sol, à Lua (divinizados), e a outros deuses do passado.

Citamos abaixo os dias da semana em Latim:

Dies Solis (dia do Sol)
Dies Lunae (dia da Lua)
Dies Martis (dia de Marte)
Dies Mercurii (dia de Mercúrio)
Dies Jovis (dia de Júpiter)
Dies Veneris (dia de Vênus)
Dies Saturni (dia de Saturno)

Com exceção de sábado e domingo, as outras designações existem até hoje nos calendários francês, espanhol, italiano, etc. (línguas latinas).

6 - A semana eclesiástica

Com a vitória do Cristianismo, a Igreja acabou por adotar um calendário que fugisse às referências pagãs. No Latim clássico, a palavra feriae, feriarum significava férias ou festas, e só era usada no plural (pluralia tantum).

No século 4, o Imperador Constantino ordenou que todos os dias da Semana Santa fossem feriae (feriados). Com o latim vulgar, a palavra feriae adquire singular e, desde o Papa Silvestre I, santo, (de 314 a 335), os documentos pontifícios passam a registrar a semana como segue:

Dominica (dia do Senhor);
feria secunda (segunda festa);
feria tertia (terceira festa);
feria quarta (quarta festa);
feria quinta (quinta festa);
feria sexta (sexta festa) e
sabbatum (do hebraico, para ligar-se ao Velho Testamento).

Isto se manteve até hoje. Todavia, os povos cristãos não modificaram os nomes de seus dias semanais.

7 - A escolha de Portugal

Quando Portugal foi reconhecido como reino independente, em 1143, separando-se de Leão e Castela, grande parte da Espanha estava sob domínio dos árabes muçulmanos.

Braga, ao norte, era o grande Arcebispado de Portugal (os da Espanha estavam ocupados). é então que o Arcebispo de Braga, Primaz da nova nação, exige que se adote em Portugal a semana eclesiástica.

A palavra feria, do latim tardio, originou festa e feira, em português. Por que adotamos feira?

Podemos fazer suposições: por um lado, como já vimos, há povos da áfrica que estabeleciam uma conotação semelhante. Eram desconhecidos na época, mas o fato revela uma tendência.

Por outro lado, as feiras têm sempre um aspecto festivo. Em certos casos, são autênticas FESTAS, como certas feiras de gado.

O fato é que, durante o século XII, Portugal adotou essa nomenclatura para os dias da semana. Ela é, praticamente, insólita na História, privativa dos países de língua portuguesa.

Outras nações, que sempre forma mais próximas do Papado, como Itália e Espanha (libertada dos árabes em 1492), jamais a adotaram.

8 - A Páscoa

Todas as festas móveis da Igreja se baseiam na Páscoa, que é uma herança do Velho Testamento e do calendário lunar.

A Páscoa judaica é chamada "Pessach" (passagem), que comemora a travessia do mar Vermelho e, portanto, a libertação dos judeus do cativeiro egípcio. Esta festa corresponde ao dia 15 do mês Nisan, do calendário lunar hebreu.

O Imperador Constantino fixou, no Concílio de Nicéia, em 325, a Páscoa cristã como sendo o 1º domingo depois da 1ª Lua cheia depois do equinócio da primavera (hemisfério norte).

Este varia entre 21 e 22 de março, mas a Igreja fixou-o, internacionalmente, em 21 de março.

Isto deixava a Pessach judaica próxima da Páscoa cristã, que varia entre 22 de março e 25 de abril. Outrora, os judeus sacrificavam um cordeiro na Páscoa, lembrando que a última peste (que convencera, finalmente, o Faraó a libertá-los) foi a morte dos primogênitos egípcios. Nessa noite, os hebreus foram poupados, porque marcaram suas portas com o sangue do cordeiro.

Os primeiros cristãos identificaram o cordeiro sacrificado com o Cristo morto na cruz: o "Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo". Mas desde o século IV, não houve consenso a respeito da data da Páscoa, entre as igrejas do Ocidente e do Oriente.

E após 1582, os ortodoxos, como não aceitaram o calendário gregoriano, passaram a festejar a Páscoa em outra data, por obedecerem ao calendário juliano.

Eles o seguem até hoje, mas apenas no que se refere às festas religiosas.

9 - As festas móveis da Igreja

a) Anteriores ao domingo de Páscoa:

Sábado de Aleluia, Sexta-feira Santa (Paixão), Quinta-Feita Santa (Endoenças) e Domingo de Ramos (que é o domingo anterior e que corresponde à chegada de Jesus a Jerusalém).

A Quaresma (período de recolhimento) dura, para os católicos, 46 dias e separa o domingo de Páscoa da quarta-feira de cinzas. O dia anterior a esta é a terça-feira gorda ou de Carnaval (não é festa da Igreja).

b) Posteriores ao domingo de Páscoa:

Quarenta dias depois da Páscoa, temos a quinta-feira da Ascensão (subida de Cristo ao Céu). Dez dias após esta é o domingo de Pentecostes (descida do Espírito Santo sobre os apóstolos).

O domingo seguinte é o da Santíssima Trindade. A quinta-feira imediata seguinte é o Corpus Christi (Corpo de Cristo).

Na sequência deste artigo, saiba como são estabelecidas as datas religiosas móveis e a origem dos nomes dos dias da semana, na língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, etc).
 

(continua)      Voltar