desenredo, subst.
masculino -
ação ou efeito de
desenredar (-se);
      * * * * * * DESENREDO * * * * * *      
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desenredamento;
desprender-se da rede;
separar-se do que
está enredado.

Reflexões sobre o estado de consciência de ego
José Carlos      (21/Agosto/18)

Fala-se muito que o ego é o grande vilão da psique humana; os mais fundamentalistas falam até mesmo em derrota e morte do ego, mas pouco se diz sobre a natureza desse estado de consciência.

Na visão psicanalítica (Freud), trata-se da faixa de consciência que surge desde nossa extrema infância, onde ocorre a percepção do mundo e onde eclodem os desejos inconscientes do bebê: desejo de viver, de satisfação das necessidades físicas e psicológicas, e sobretudo de prazer imediato e incondicional, o que ele chamou de Id (isso).

A interação com o ambiente, sobretudo com os pais, é também percebida (como tudo mais) nessa faixa de consciência. Acontece que aí — bem cedo, portanto — começa a "doutrinação", a "moldagem", isto é, o processo de aprovação e de repressão social; o que pode e o que não pode, o que é bonito e desejável e o que é feio e repelente: a toda essa influência, Freud chamou de "superego".

"Algo" no bebê percebe que que certos tipos de comportamentos favorecem a realização de certos desejos, enquanto que outros são reprimidos, sendo que, para estes últimos, esse "algo" deverá desenvolver estratégias para realizá-los ou desistir deles (ocasionando o sentimento de frustração). Essa é, segundo a Psicanálise, a origem do ego — portanto, um espaço conflituoso desde o início; com os impulsos instintivos e emocionais do bebê (necessidade de afeto e acolhimento) se chocando constantemente com as respostas dos pais a suas demandas, satisfazendo-as (com maior ou menor presteza/grau de satisfação), ou reprimindo-as.

Progressivamente, ocorre a diferenciação das pessoas que cuidam dele (sobretudo mãe e pai), bem como a percepção de si mesmo como ser separado, juntamente com o desenvolvimento da consciência verbal mediante a qual identifica a si mesmo e aos demais.

Mais tarde, com o desenvolvimento físico e mental da criança, adentrando pela puberdade rumo à vida adulta, o pensamento será amplamente reconhecido e aceito como autoridade interior, em grande parte oposto aos impulsos internos, sobretudo de natureza sexual, com os quais se acha em permanente conflito.

O ego, dirá Freud, é "um pobre coitado", espremido entre três escravidões: os desejos insaciáveis do id, a severidade repressiva do superego e os perigos do mundo exterior. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o ego é a angústia.

Se se submeter ao id, torna-se imoral e destrutivo; se se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter à realidade do mundo, será destruído por ele.

Cabe ao ego encontrar caminhos para a angústia existencial. Estamos divididos entre o princípio do prazer (que não conhece limites) e o princípio da realidade (que nos impõe limites externos e internos).


A autoidentidade fundamentada no pensamento e na memória, sem dúvida, é um ganho evolutivo em relação ao lado emocional e ao desejo de prazer, também presentes nos animais.

Mas o desejo inconsciente de prazer, território, domínio pela força, ajuntamento em tribos continuam presentes nos seres humanos, de pouco valendo o condicionamento do superego, mediante recompensas e castigos, ao inocular os valores sociais da cultura, religião, bondade, solidariedade, etc. na consciência de ego (eu) de forma que este assuma COMO SEUS essas noções e valores e reprima as tendências animais do seu aspecto instintivo.


O grande problema é que não é dada atenção suficiente à consciência mediante a qual ocorre a capacidade de perceber e interpretar (inicialmente, de forma não verbal) o ambiente externo e as pulsões internas, gerando o que ele chamou de ego (palavra latina que significa "eu").

Essa consciência, onde ocorre a percepção do mundo, não é considerada em si mesma; é vista apenas como uma "condição sine qua non", um meio para um fim; não se vê nela qualquer relação com a vida nem com a inteligência. O fato fundamental da natureza, a capacidade de perceber, de estar consciente (de forma não verbal), é, assim, deixado em segundíssimo plano.

Em contrapartida, desenvolve-se sobre essa capacidade o sentido da autoidentidade, com total aceitação do pensamento como autoridade interior (isto é, aquele que dá as ordens), consolidando-se assim a noção de ego (eu). Essa aceitação é a principal faceta do estado de ego como um "eu" racional, ainda que em permanente conflito e disputando a hegemonia com as tendências latentes e desejos inconscientes.

Dessa aceitação derivam mil sentimentos, emoções e comportamentos. Por exemplo, ao querer realizar um prazer proibido, ou uma ação condenável, já nos vem a voz do superego (passando-se por ser nossa) desaconselhando e reprimindo nossa intenção. Daí segue a revolta, a frustração, o ímpeto ainda maior de realizar o desejo, e toda a subsequente cadeia de emoções associadas aos eventos seguintes.

Agora, imaginem a quantidade de conteúdos que internalizamos desde o tempo de bebês! Todos os modelos de conduta, moral, costumes, regras, condenações, ameaças, toda a cultura da raça, religião, grupos sociais — tudo está guardado em nós, muitas vezes em conflito com os impulsos internos de prazer de diversos tipos, sobretudo de natureza sexual.

Desejo e culpa, ousadia e medo, crueldade e bondade, vingança e perdão, selvageria e gentileza — tudo isso se mistura e pronto: está criado nosso eu.

Criado em cima de onde? da consciência primeva com a qual surge a vida, fonte da percepção anterior ao verbo, espaço onde ocorre toda a manifestação, e que é completamente esquecido e ignorado, como se não fosse a base de tudo.

 


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