desenredo, subst.
masculino -
ação ou efeito de
desenredar (-se);
      * * * * * * DESENREDO * * * * * *      
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desenredamento;
desprender-se da rede;
separar-se do que
está enredado.

É POSSÍVEL O SILÊNCIO INTERIOR?

Comentários adicionais (08/fev/23)

José Carlos Corrêa Cavalcanti

PARA SABER SE É POSSÍVEL O SILÊNCIO DA MENTE, PRECISAMOS CONHECER O PRODUTOR DE BARULHO

A pessoa psicológica se afirma quando busca satisfação, preenchimento ou prazer (em quaisquer de suas formas) e recusa a dor, desgosto ou aborrecimento. Esses são estados corriqueiros da mente humana; em ambos os casos, porém, há uma grande chance de insucesso.
Isso significa que a mente está sempre ocupada consigo mesma: seus desejos não foram realizados (ou, se foram, os objetos conseguidos são instáveis, impermanentes, deterioráveis e finitos) e muitos eventos desagradáveis surgem, não podendo ser negados pelo simples fato de estarem bem na frente, criando contrariedades, trazendo despesas imprevistas, exigindo providências e trabalhos, etc.

No processo de autoconhecimento, porém, somos levados a perguntar: quem é esse que busca satisfação e recusa as contrariedades e dores da existência? Precisamos conhecê-lo, pois é ele que planeja, resiste, desfruta e sofre; é o ator principal do drama da existência.

Não estou falando dos males físicos, que devem ser tratados convenientemente, e sim das dores psicológicas, que exigem a presença de alguém no centro da percepção do sofrimento — e quem é esse "sofredor", senão aquele que resiste, que diz "não" para as dores da vida?

Nosso mecanismo mental está constantemente recriando a noção do eu pessoal como o agente capaz de obter a felicidade ou, pelo menos, para fugir da dor; porém, o custo dessa ideia é um perene ruído interno, na forma de esperança, aflição e temor.

 

Então a pergunta inicial, indagando sobre a possibilidade ou não do "silêncio interior", passou a ser um estudo do ruído interno, e nesse estudo descobrimos que nosso próprio ego é a base de nossa contínua e às vezes tormentosa ocupação mental, ao desejar realizar ou pelo menos maximizar uma felicidade isenta de dores (ou, pelo menos, minimizando-as) na experiência terrena.

Nessa impossível tarefa, a natureza do ego é afirmação e negação, avaliação e escolha, resistência e busca — a própria antítese do silêncio interior. De forma que o texto não se ocupa, na verdade, da busca do silêncio, e sim da compreensão do fazedor de barulho.

Gostaria de acrescentar que nosso ego tem muitas autoimagens identificadas com seu aspecto físico, seus conhecimentos e habilidades, suas posses e experiências, suas emoções predominantes, preferências, crenças, valores, etc.; e, se essas autoimagens forem confrontadas ou ameaçadas, torna-se rapidamente defensivo ou mesmo agressivo, o que se vê com frequência em discussões políticas, ideológicas, religiosas, etc. (até mesmo em confrontos de torcidas organizadas de futebol). Nesse sentido, vemos que o espírito ou consciência de cada um se encontra misturado, emaranhado a todas essas autoimagens, gerando o eu pessoal que é o Putin e o Biden, eu e você, o rico e o pobre, o branco, o preto e o amarelo, ou seja: o ser humano de todos os tempos e lugares.

Para haver Liberdade deveríamos, ao menos, saber que somos escravos — o que geralmente não acontece com a consciência de ego, que julga ter livre arbítrio e vontade própria. Ele é o próprio Príncipe deste mundo, que deseja continuidade ACIMA DE TUDO; no entanto, ele acha que pode ser melhorado, haja vista, na sociedade atual, grande quantidade de livros, cursos e técnicas de autoajuda, e até mesmo seitas religiosas querendo ensinar a libertação do sofrimento, mas sem tocar na raiz do problema.

Mas como conhecer de perto o produtor de ruídos? Existe uma fonte, um nascedouro, da noção do "eu pessoal"?

Essa fonte não apenas existe, como é facilmente verificável a cada instante. Ela é a sub-reptícia sensação de identidade que nos é dada pelo processo de pensar. Este sugere, enganosamente, que somos a voz por detrás dos pensamentos, não importando quão nobres ou absurdos, elevados ou repugnantes, inteligentes ou medíocres. E a sugestão é tanto mais aceita quanto mais atenção eles concentram, porque a verdadeira substância é a atenção.

Para entender melhor, imagine uma poderosa antena capaz de receber uma certa faixa de ondas eletromagnéticas, que trazem conteúdos de todo tipo. Não tendo consciência de si mesma, ela se identifica ao fluxo constante das ondas que recebe. Em certo momento, a antena cria vontade própria e decide ter o controle da transmissão que ocorre por meio dela, para poder selecionar apenas o que lhe agrada e descartar o restante. A partir desse momento, embora a antena continue sendo uma antena como antes, ela já não é mais uma simples antena, pois se sente um eu individual!

Assim é que nos identificamos com a incansável voz que sussurra os pensamentos, e aceitamos parte de seus juízos, opiniões e ordens, enquanto outra parte é recusada. Mas aceita por quem? Recusada por quem? Quem é o selecionador e avaliador desse fluxo imprevisível e muitas vezes caótico?

É o próprio pensamento, imbuído da autoridade de supostamente ser meu eu, autoidentificado a um pensador externo aos pensamentos, quando a própria noção do pensador JÁ É, EM SI MESMA, UM PENSAMENTO! E essa avaliação e seleção dos pensamentos é corroborada pelas sensações que eles provocam no corpo físico e emocional cujo sentir, não raro, está em desacordo com o pensador. Por isso, o conflito é a natureza do eu que surge desse processo. É este que tem que ser conhecido e vigiado, se quisermos descobrir qual é a natureza do ruído interno e qual é sua origem.


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