Casa em fuga

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Texto retirado do site: http://nia7.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_05.html


Tinha paredes cinzentas e frias.
Fria era a noite.
Cinzento era o dia.
E a casa murchava.
Como murchavam as pessoas que lá viviam.
As pessoas não tinham calor e não falavam com a casa…

Nem passavam as mãos em carícia pelas paredes frias.
As pessoas saíam cedo e voltavam tarde.

A Casa chorava.
Um choro abafado...
quente...

Um dia, a árvore ouviu a Casa.
Mandou o Pássaro Azul investigar.


E o Pássaro investigou. Investigou e concluiu:
— Árvore, a Casa tem a alma partida!

A árvore ouviu e calou. Calou e pensou. Pensou e falou:
— Pássaro Azul, empresta-lhe as tuas asas.
O Pássaro Azul disse que sim.

A noite caiu e, quase como todas as noites, caiu profunda e fria.
Quando os donos da casa chegaram, tão tarde como sempre, tão frios como sempre, não encontraram a casa.
A Casa tinha partido!

Andaram de casa em casa procurando a Casa.
— Não vi! Não vi! — respondiam as pessoas.

Mas a Menina Olhos-Cor-de-Céu tinha visto.
— Eu vi! Eu vi a Casa! Passou aqui a voar com um pássaro da montanha.

Os donos da Casa, sorriram um sorriso trocista para a menina-que-sonhava-demais e, seguiram o seu caminho.
E procuraram...procuraram…procuraram...

E, um dia, encontraram-na.
Encontraram-na cor-de-arco-íris, com sol nas vidraças e um Pássaro Azul no parapeito das janelas.
A seu lado, uma árvore de um verde estonteante!

Os donos da Casa entreolharam-se perplexos:

— Esta casa não é a nossa casa!!!

E a Casa falou, com um sorriso-rosa-de-sonho:
— Sou uma casa sem dono, sem amarras, que sabe voar,
uma casa-fênix renascida, uma casa acabada de nascer.

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