Textos de Chuang-Tse 
 

O homem que desdenhava as máquinas

Um filósofo confucionista passeava com seus discípulos pelos campos do sul da China, quando viu um camponês que molhava sua horta com um regador.

O filósofo perguntou-lhe por quê não usava uma bomba para este trabalho.

O camponês olhou-o e respondeu:

"Ouvi meu Mestre dizer que aqueles que usam engenhosos instrumentos são espertos nos seus negócios. Aqueles que são espertos nos seus negócios têm astúcia no coração. Aqueles que têm astúcia no coração não o têm puro e incorrupto. Aqueles cujo coração não é puro e incorrupto têm o espírito agitado. Aqueles cujo espírito é agitado não são veículos convenientes para a Paz. Não é que eu desconheça estas coisa, é que eu teria vergonha de usá-las."

O filósofo confucionista andou longo tempo em silêncio.

Quando foi interpelado por seus discípulos para explicar a razão do seu silêncio, respondeu:

"Eu pensava que só existisse um homem de sabedoria no mundo: Confúcio. Mas eu não conhecia este homem, nem sua maneira de ser."

"Eu sempre ouvi dizer de meu Mestre que a praticabilidade é o teste de qualquer esquema, que o objetivo do esforço é o sucesso e que se deve procurar os maiores resultados com o menor trabalho."

"Este homem não pensa assim. Ele é infinitamente completo em si próprio, e não pretende saber para onde vamos ou a que viemos. Sucesso, utilidade e o conhecimento das artes, decerto, fariam-no perder o seu coração humano."

"Mas, ele não vai a parte alguma contra a sua vontade. Mestre de si mesmo, acima dos louvores e culpas do mundo, ele é um homem perfeito!"

Chuang Tse - Traduzido de Lin Yutang.

 

O homem em luta

Uma vez recebida esta forma corporal fixa, o homem se apega a ela, à espera do fim.

Às vezes chocando-se com as coisas, às vezes curvando-se diante delas, ele segue o seu rumo, como um corcel a galope, e nada o pode deter.

Não é ele patético?

Transpirando e labutando até o fim de seus dias sem jamais ver sua própria realização, exaurindo-se completamente sem saber onde buscar o repouso — como podemos deixar de nos apiedar dele?

(Chuang-Tsé - Escritos Básicos - página 41)

 

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