Ramana Maharshi (1879-1950) é considerado
um dos maiores sábios da idade moderna. Nascido no sul da Índia, aos 17 anos
ele teve a experiência da iluminação e perdeu o interesse pelas coisas do
mundo.
Em seguida, abandonou o lar sem a permissão
dos pais e foi viver retirado junto à montanha sagrada de Arunachala.
Durante vários anos, Ramana manteve silêncio
completo. Quando sua mãe foi até seu retiro implorar que voltasse para casa,
ele escreveu em um pedaço de papel:
"0 destino da alma é determinado por seu
carma maduro, prarabda-carma. 0 que não deve acontecer, não acontecerá, não
importa o quanto você deseje. 0 que deve acontecer, acontecerá, não importa
tudo o que você faça para evitar. Quanto a isso, não resta dúvida.
Portanto, o melhor caminho é permanecer em
silêncio."
Quando ele saiu do regime de siêncio total,
formou-se ao seu redor um ashram - uma comunidade de aprendizes. 0 escritor
Paul Brunton, aluno seu, teve papel decisivo na popularização mundial do seu
ensinamento.
A sabedoria de Ramana conquistou o Ocidente,
e Carl G. Jung escreveu uma introdução para um dos livros que reúnem seus
ensinamentos. A principal técnica meditativa de Ramana Maharshi consiste em
perguntar "quem sou eu?".
Gradualmente, aquele que persevera na
investigação dessa pergunta se liberta de tudo o que não é seu verdadeiro eu.
Essa técnica de jnana ioga coincide com o diagrama de meditação ensinado por
Helena Blavatsky a seus discípulos mais próximos.
Nos dois casos, o praticante aprende a
identificar-se com o espaço e o tempo infinitos. De fato, Ramana vivia na
consciência eterna e fora do tempo cronológico que, para ele, era uma ilusão.
Certa vez, ao ganhar de presente um
calendário, afirmou: "Você me dá um novo calendário para ajudar-me a lembrar
dos dias, quando eu tenho sérias dúvidas sobre em que ano nós estamos. O tempo
é todo uma coisa só para mim."
Em outra ocasião, Paul Brunton contou a ele
que havia ido a um determinado encontro social, mas que havia sido "uma perda
de tempo". Ramana comentou: "Se o tempo não existe, corno é que você consegue
perder tempo?
A seguir, fragmentos de um diálogo interno
com a obra de Ramana Maharshi - tal como o desenvolvi em Brasília, reexaminando
seus livros em minha biblioteca, entre as árvores do Sítio Céu e Terra.
-Qual o objetivo mais elevado da
experiência espiritual?
-Maharshi - A compreensão do eu superior.
-A solidão é necessária ao buscador?
-Maharshi - A solidão está na mente do
homem. É possível estar em plena vida mundana, mantendo-se, contudo, a
serenidade perfeita da mente; tal pessoa está sempre em solidão. Outra pessoa
pode permanecer na floresta e, ainda assim ser incapaz de controlar sua mente.
Não se pode dizer que esteja em solidão. A solidão é uma atitude da mente; o
homem apegado às coisas da vida não pode alcançar a solidão, onde quer que
esteja. Um homem desapegado está sempre em solidão.
-O que é mouna (silêncio mental)?
-Maharshi – É o estado que transcende a
linguagem e o pensamento, é a meditação sem atividade mental. A subjugação da
mente é meditação; a meditação profunda é a linguagem eterna. O silêncio é a
linguagem eterna; é o fluxo perene da “linguagem”, eterna. (...) Existe um
estado em que cessam as palavras e prevalece o silêncio.
-Como se pode pode obter o estado de
bem-aventurança eterna, em que não há sofrimento?
-Maharshi – Além da afirmativa dos Vedas de
que onde quer que haja um corpo existe sofrimento, essa é também a experiência
direta de todas as pessoas; portanto, o buscador deve investigar a sua
verdadeira natureza que é sempre destituída de corpo, e deve permanecer nela.
Esse é o meio de alcançar aquele estado.
-O que significa dizer que o buscador deve
investigar a sua verdadeira natureza e compreendê-la?
-Maharshi – Experiências como “eu fui , eu
vim, eu estava, eu fiz" vêm naturalmente a todos. A partir dessas experiências,
nao parece que a consciência "eu" é a autora daqueles vários atos? A
investigação da verdadeira natureza daquela consciências enquanto se preserva a
consciência de si mesmo, é o meio de compreender a verdadeira natureza do
buscador.
-Como se deve investigar "quem sou eu"?
-Maharshi - Ações como "indo" e "vindo"
pertencem apenas ao corpo. Assim, quando alguém diz "eu fui, eu vim isso
significa dizer que o "eu" é o corpo.
Mas será possível dizer que a consciência do
corpo é o "eu" já que o corpo não existia antes do meu nascimento (...), não
existe no estado de sono profundo e se torna um cadáver quando morto?
Será que esse corpo que está inerte como um
tronco de árvore pode ser considerado brilhante como um "eu"?
A consciência chamada "eu" que surge em
primeiro fuga em relação corpo é descrita de várias maneiras como auto-ilusão,
egocentrismo, ignorância, maya, impureza e alma individual.
Será que podemos deixar de lado a
investigação sobre isso? Não será para nosso bem que todas as escrituras
afirmam que eliminar a auto-ilusão produz a libertação?
Desse modo, deixando que o corpo-cadáver
permaneça como corpo, e nem esboçando sequer a palavra "eu", devemos investigar
intensamente o seguinte: "O que é que se apresenta como um
'eu'?"
Então brilhará no coração uma espécie de
revelação sem palavras do verdadeiro eu. Isto é, surgirá por si mesma a pura
consciência que é una e ilimitada, porque desapareceram os pensamentos diversos
e limitados.
Se permanecermos quietos e sem abandonar
essa experiência, o egocentrismo, o sentido individual, a sensação "eu sou o
corpo" serão totalmente destruídos, e no final a sensação de "eu" também será
apagada (...). Os grandes sábios e as escrituras dizem que só isso é
libertação.
-Dos meios de controle da mente, qual é o
mais importante?
-Maharshi - Embora a prática da retenção da
respiração seja perigosa e deva ser evitada, a respiração profunda e outros
exercícios, respiratórios moderados trazem serenidade e são, de fato, um meio
central de controle da mente.
- O senhor pode dizer mais sobre isso?
-Maharshi - Não há dúvida de que o controle
da respiração é o meio de controlar a mente, porque a mente, como a respiração,
participa da natureza do ar; porque a natureza da mobilidade é comum a ambos;
porque o lugar de origem de ambos é o mesmo, e porque; quando um deles é
controlado, o outro também é controlado.
-Qual a importância, da dieta do aprendiz?
-Maharshi - O alimento afeta a mente, e a
torna mais sátvica (vital, vibrante, rítmica) para a prática de qualquer ioga.
Vegetarianismo é absolutamente necessário.
-A aparição de visões ou o escutar de sons
místicos durante a meditação ocorrem antes que a mente concentrada esteja
imóvel e vazia ou depois?
-Maharshi - Podem ocorrer tanto antes quanto
depois. O importante é ignorá-los e continuar prestando atenção apenas ao eu,
ao ser.
-Sou digno de ser um aprendiz?
-Maharshi - Todos podem ser aprendizes. O
alimento espiritual e comum a todos e nunca é negado a ninguém.
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Venkataraman - nome dado por seus pais,
nasceu em Tiruchuzi, pequena aldeia no sul da Índia, a 30 de dezembro de
1879. Sua infância foi igual à
de todos os meninos de sua época. Porém, aos doze anos seu pai faleceu e a
família foi morar com um tio na vizinha cidade de MADRAS.
Aos quatorze anos preparava-se para entrar
na Universidade de Madras, no entanto sentia que aqueles estudos não tinham
qualquer utilidade para ele, pois a sabedoria do mundo material não poderia
torná-lo consciente da verdade de Ser.
No fim do ano de 1895, o jovem Venkataraman,
ao encontrar um tio que vinha de uma peregrinação, abordou-o com a pergunta:
“De onde está vindo?” “De Arunachala,”, foi a resposta.
A aparente simplicidade da frase de seu tio
encontrou profundo eco em seu coração, como se a palavra “ARUNACHALA” lhe
despertasse alguma sutil recordação.
Em julho de 1896, na tenra idade de
dezessete anos, Ventakaraman teve a experiência extraordinária, que transformou
Sua vida e despertou-O para o verdadeiro significado do SER: sentiu que se
integrava no universo, e perguntou: "Quem sou eu? Minha consciência não é
atingida." Então compreendeu que era independente do corpo físico, da mente e
dos sentidos. Sentia apenas o pulsar cósmico e concluiu: "Sou Consciência".
Depois disso, Ramana, pouco tempo depois
deixa a casa do tio e parte para Tiruvannamalai em direção ao Monte Arunachala
- local onde o Deus Shiva apareceu a seus devotos na forma de uma coluna de
luz, instalando-se em cavernas e templos.
Com a chegada de muitos discípulos, mudou-se
para um Ashram construído ao pé de Arunachala, onde recebia pessoas de todas as
partes do mundo para aprender com ele. Durante os cinqüenta e quatro anos
seguintes, sua vida foi um exemplo vivo de Suprema Paz, Compaixão Universal e
Auto-Consciência incessante.
Ele ensinou o Caminho do Auto-Conhecimento e
a Auto-Renúncia através da Vichara (a pergunta ¨Quem sou Eu?¨).
Quando se estava próximo a Ele, as ondas incansáveis da mente eram acalmadas:
corações aflitos encontravam conforto e paz e os buscadores sinceros da Verdade
encontravam a Suprema Beatitude. Sri Ramana deixou de ser apenas um admirável
Mestre da Índia. Saltou dos quadros que enfeitam os altares dos templos para
dentro de nossa existência.
Ordenou a Sri Maha Krishna Swami que
fizesse, no Ocidente, a Grande União entre os homens, tornando conhecida e
acessível a todos a Verdade de Ser. Foi por sua vontade que Sri Maha Krishna
Swami instalou-se no Brasil, a terra apontada pelo Sat Guru como o local onde
seriam preservados os sagrados ensinamentos de todos os Grandes Mestres, onde
também seriam vivificados e tornados acessíveis a todos.
A sabedoria de Bhagavan é insofismável, não
está limitada às palavras, ela toca a essência de cada um: é a força do
silêncio, a Upadesa Sharanam, que irradia de Sri Ramana para todos. Ao
codificar o caminho da autoconscientização, Sri Ramana criou, efetivamente, a
solução para todos os que buscam o autoconhecimento.
Até então, o acesso à sabedoria dos Mestres era
exclusivo dos reclusos do silêncio. Sri Ramana mostrou um caminho possível de
ser trilhado livremente, conforme as condições da vida moderna.
Certa tarde em que estava sozinho em casa,
sentiu que iria morrer. Deitou-se com os membros distendidos, susteve a
respiração, mantendo a mente em completa introspecção e o corpo inerte; sentiu
toda a força de sua personalidade e até mesmo ouviu a voz do SER dentro de si,
totalmente apartada do corpo. ¨O corpo morre, mas o espírito que o transcende é
imune à morte. Isso quer dizer que sou um Espírito Imortal¨ Daí em diante sua
absorção no Ser é permanente. No dia 14 de abril de 1950, Sri Bhagavan deixa o
corpo.
Entretanto, muitos devotos, espalhados por
todos os rincões do planeta, até hoje, crêem firmemente em suas palavras quando
inquirido sobre Sua partida: “Para onde mais poderia Eu ir?” Este é o Santo
Sábio que, em Seu silêncio e olhar de bem-aventurança, segue vivo nos corações
de todos os seus discípulos.
"O destino da alma é determinado segundo seu
prarabdha-karma. O que não deve acontecer, não acontecerá, não importa o quanto
você deseje. O que deve acontecer, acontecerá, não importa tudo o que você faça
para evitar. Quanto a isso, não resta dúvida. Portanto, o melhor caminho é
permanecer em silêncio."
"A consciência do corpo é o 'Eu' errado.
Desista desta consciência-corpo. Isto é feito através da busca da fonte do
'Eu'. O corpo não diz 'Eu sou'. É você quem diz 'Eu sou o corpo'. Descubra quem
é este 'Eu'.
Procurando a sua fonte, ele irá desaparecer.
Seja o que você é. Não existe nada para ser manifestado. Tudo
o que é necessário é a perda do ego.
A verdade de si mesmo é a única que vale a
pena ser buscada e conhecida.
Realização não é nada a ser adquirido. Ela
está sempre aí, mas obstruída por uma tela de pensamentos. Todos os seus
esforços devem ser dirigidos para a superação desta tela, e então a realização
é revelada.
Realização é simplesmente a perda do ego.
Destrua o ego pela procura da sua identidade. Uma vez que o ego não é nenhuma
entidade, ele automaticamente desaparecerá, e a realidade irá brilhar por si
mesma. Este é o método direto, enquanto todos os outros se concretizam somente
através da retenção do ego"
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