Os venenos da mente
Entrevista com a Lama Tsering - 07/03/2005 - fonte: UOL

Vya Estelar: O que são e quais são os venenos da mente?

Lama Tsering: Os venenos da mente são divididos em três categorias principais. A primeira é o apego ou desejo, que inclui o ficar preso física ou mentalmente a pessoas, objetos e fenômenos.

A segunda é a raiva, que significa rejeitar, não querer, afastar algo de você.

O terceiro é a ignorância, que significa não ter uma noção clara da vida, não compreender a natureza verdadeira das coisas.

Estes venenos agem de maneira interdependente. O que ocorre é que, quando não temos uma visão real da vida, acabamos criando desejos e apegos. E quando não conseguimos o que queremos, criamos aversão e ficamos com raiva.

Os venenos da mente agem como toxinas, criando energias mentais negativas. Estas energias são expressas em nossas ações, palavras e pensamentos, causando um sofrimento cíclico, em cadeia, que se repete infinitamente.

Vya Estelar: A raiva seria o principal veneno da mente?

Lama Tsering: A raiva é o veneno mais grosseiro e o que traz as conseqüências mais terríveis, cruas e diretas. O desejo é mais sutil e, em nossa sociedade atual, é até mesmo considerado uma coisa boa, apesar de trazer tanto sofrimento.

Mas o veneno fundamental, realmente, é a ignorância, é o não reconhecimento da natureza verdadeira dos fenômenos. Não podemos dizer que a ignorância seja o pior veneno, mas ele é o primeiro, o que dá origem a todos os outros.

Vya Estelar: O que é a impermanência?

Lama Tsering: Encare sua vida como se fosse um banco no parque, em uma tarde de clima ameno. Você vai até lá passar algumas horas, sentado, aproveitando tudo ao máximo: a brisa fresca, os pássaros cantando, as borboletas, o sol batendo no rosto.

Tudo aquilo dura pouco tempo e vai chegar ao fim. Por isso, você deve aproveitar o momento e criar boas condições. Você não deve se apegar ao banco.

Não tente colocar uma etiqueta nele com o seu nome, querendo mantê-lo para você! Isso vai impedi-lo de sentir o prazer e a liberdade de estar lá, simplesmente sentado.

E se alguém se sentar com você, seja gentil, tratando-a com amor e compaixão. Não brigue com esta pessoa. Seu tempo é muito curto. Vocês estão ali apenas de passagem. Ao lembrarmos de que tudo na vida é impermanente e chega ao fim, podemos ser generosos com ela, sabendo que provavelmente ela nunca pensa no fato de que terá que deixar o banco em breve, assim como você.

Todos nós queremos manter as coisas e não conseguimos. Temos que ter compaixão por elas, e por nós mesmos. Compreender a impermanência nos faz ricos: temos tudo neste momento e podemos ser generosos, abertos, decididos a fazer o que pudermos para beneficiar a todos com o nosso amor, sem medo de perder.

(Mais informações: www.budismotibetano.com.br )

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